segunda-feira, outubro 29, 2007

Quinta das Marias Branco 2005

Este produtor, já aqui abordado quando provei dois belos Tourigas Nacionais, ganhou recentemente um prémio honroso. Falo-vos do prémio de produtor revelação do ano no guia Vinhos de Portugal 2008. Este branco de 2005 é um vinho de lote, no entanto em 2006 o produtor optou por apenas produzir Encruzado. Tem então quatro casta típicas do Dão, Encruzado, Malvasia Fina, Bical e Cerceal que tiveram fermentação parcial em barricas novas de Carvalho Francês durante 5 meses. Provei-o no ínicio deste ano, mas achei que estava ainda muito jovem e que um tempinho de garrafa lhe era saudável. Provado agora, deparei-me com o seguinte:

13%Vol e uma cor amarelo de boa concentração, com ligeiros reflexos dourados.
No nariz, muito afinado e de bom impacto aromático inicial com fortes notas de fruto tropical e flores da primavera. Intenso nas notas minerais e citrinas, folha de laranjeira, a madeira está discreta mas dá-lhe um tom nobre e sério. Um aroma muito cativante, onde não se perdeu frescura, mas ganhou-se complexidade e até já alguns toques melados.

Na boca, largo e estruturado, tem alguma untuosidade que nos dá vontade de percorrer o vinho pela boca e ficar a deliciar-nos com a elegância e frescura que ele nos transmite, associado a um belo perfume aromático. Perfeito na acidez, alta e muito bem colocada. As notas minerais e algum fruto maduro proporcionam um final de média duração, com ligeira doçura e algumas notas de baunilha. Muito interessante na prova, com um aroma cativante, e com bom comportamento na boca, ficando apenas o final de boca a pecar um pouco por defeito, embora tenha alguma complexidade, precisava de mais persistência e profundidade. O tempo fez-lhe bem e certamente não estará a beira do precipício, antes pelo contrário. Belo branco do Dão. Impecável à mesa com um arroz de perca. Ah e o preço dele? É dado... É pena é serem poucas garrafas...

Nota 16,5
Preço 5 euros
Produção 3300 garrafas

quarta-feira, outubro 24, 2007

Dona Berta Reserva 2004

Não só pelo Rabigato se ficam os vinhos Dona Berta. Em matéria de tintos o produtor apresenta um Reserva 2004 e um Vinhas Velhas 2005, este último com poucas garrafas ( cerca de 2.000). Este tinto é feito com as castas tradicionais do Douro. Parte da fermentação e o estágio dá-se em barricas de carvalho francês americano.

Com 13%Vol mostra uma tonalidade rubi de mediana concentração.
No nariz, contido na exuberância, mas expressivo e profundo. Notas de fruto vermelho, chocolate preto e erva seca, tudo muito suportado por uma mineralidade bem característica daquela região fria. Ligeiras mas boas notas de couro trazem ao vinho um lado mais rústico. A madeira, presente e bem integrada dá ao vinho uma certa sensação tostada.

Na boca, o vinho entra de forma educada e com suavidade, taninos sedosos e nada desfraldados. Acidez bem colocada, estrutura mediana, num vinho que prima pela elegância e capacidade de dar prazer do que pela exuberância pastosa e frutada na boca. O final é de bom nível, fresco e com apontamentos de tabaco e alguma especiaria. Está um vinho bem interessante, certinho e direitinho, virado para a mesa e pronto a beber. Um aplauso para o pouco álcool, quer no branco quer no tinto.

Nota 16

Dona Berta Reserva Rabigato 2006

Hernâni Verdelho, tem na Quinta do Carrenho (Douro Superior), bem perto da pacata aldeia de Freixo de Numão, as suas vinhas. No vinho branco, o produtor tem um varietal de Rabigato, provavelmente o único no país. É um Reserva Branco 2006, proveniente de vinhas velhas ( mais de 150 anos) e vinha mais nova, trabalhado sempre em inox, com battonage durante 3 meses.


Com 13%Vol e uma brilhante cor amarelo claro.
No nariz, mostra nervo e frescura bem vincada, com um aroma marcadamente mineral. Muita folha de limoeiro, malmequeres e sensação de relva fresca continuam a marcar passo no lado fresco do vinho. Com a abertura no copo, desenvolvem-se alguns aromas a manga e algumas fruta de caroço. Um aroma muito fino e delicado, ainda algo fechado, provavelmente irá desenvolver um belo aroma com o tempo em garrafa.

Na boca, encorpado e com alguma untuosidade, o vinho mostra um perfil sério e com um conjunto muito interessante, com uma acidez crispante, onde as notas citrinas e boas notas vegetias imperam. Fresco e refrescante com. O final é assertivo, longo e com boas notas minerais. Fez-me pensar, várias vezes, que estava a provar um Encruzado do Dão, ainda na fase fechada. É um vinho com grande potencial, perfeito para a mesa, mas que precisa de ganhar coragem para se mostrar. Com o tempo vai lá certamente... Pode perfeitamente ser provado desde os 10ºC até aos 14º, pois a excelente acidez suporta o vinho, e a uma temperatura mais alta o aroma e o comportamento na boca melhoram bastante.

Nota 17

segunda-feira, outubro 15, 2007

Douro Boys - Os Vale Meão Tintos de 2005

Bem lá no Alto Douro, perto de Foz Côa fica a Quinta do Vale Meão. Esta Quinta foi adquirida por Dona Antónia Adelaide Ferreira ( A Ferreirinha) no final do século XIX. Actualmente é a família Olazábal, ainda descendente de Dona Antónia, que é a proprietária. O projecto iniciou-se em 1999, e actualmente são produzidos 3 vinhos, o Meandro, o Quinta do Vale Meão, e o Quinta do Vale Meão Vintage.
Em prova estiveram presentes o Meandro 2005 e o Quinta do Vale Meão 2005

Meandro 2005

Feito com 5 castas, onde predomina a Tinta Roriz, seguido da Touriga Franca e Touriga Nacional, todas vinificadas em separado. Pisado a pé em lagares de granito durante 4 horas, passando para o inox onde se deu fermentação. Estagia depois em barricas de 2º e 3º ano até ao engarrafamento em Julho de 2007.
Com um aroma bem expressivo e carregado, mostra muito fruto preto aliado a um perfume de vegetação intenso. Cheio de nervo no nariz, algum mineral com a barrica bem integrada, garantindo notas de tabaco em sintonia com chocolate preto. Nariz fresco sempre num perfil um pouco extraído. Está bem na boca, austero e encorpado, com uma grande dose de fruta e alguma frescura, boa acidez embora tenha algum peso devido à concentração. Taninos secos e ligeiramente agressivos ainda. Final frutado e com alguma persistência. Para a mesa e para dar prazer a um preço convidativo. É preciso é esperar por ele. Um pouco mais fresco que o 2004, mas ainda assim com um perfil bem maduro.
Nota 16,5

Quinta do Vale Meão 2005
Com apenas 3 castas, Touriga Franca, Tinta Roriz e com forte predominância da Touriga Nacional (65%), o vinho é também pisado a pé e vinificado casta a casta. O estágio é feito em madeira francesa nova e de segundo ano. Engarrafado também em Julho de 2007.
Com a Touriga Nacional em evidência, com toques muito elegantes de alfazema e violetas. Fez-me logo pensar num Touriga do Álvaro de Castro tal é a exuberância controlada, isto é, com classe. Um aroma muito apelativo, com boa dose de pimenta verde, bastante complexo, muita mineralidade, com a madeira plenamente ligada com fumados, alguma baunilha ligeira e uma tosta muito fina. Na boca está com uma entrada educada, cheio de estrutura, mas com o tanino fino. Enérgico e com uma profundidade enorme. Acidez fantástica, com muito cacau e notas de tabaco conjugadas com um bálsamo refrescante. Final longo e de grande qualidade. Um vinho fantástico, o melhor Vale Meão ( entre 99,01 e 04) que provei. Um grande, grande vinho... Mais uma flecha que me acertou.
Nota 18,5

domingo, outubro 14, 2007

Monte Seis Reis Syrah 2004

Depois de apresentado o Tinta Caida, volto ao Monte Seis Reis para falar sobre o varietal de Syrah. Este monocasta de 2004 é a segunda colheita a vir para o mercado. Fermentado em inox, o vinho estagia durante 12 meses em barricas de carvalho francês.

Com 14,5%Vol o vinho mostra no copo uma coloração granada de boa concentração, com ligeiro rebordo violeta.
No nariz, expressivo q.b., tal como o Tinta Caiada, com alguma exuberância e marcado por uma sensação de baunilha e algodão doce. Este primeiro conjunto de aromas está ligado a um forte aroma de borracha, fruto muito maduro, ameixa e cereja. Com alguma complexidade, sempre num estilo new world e pesadote, aparecem também algumas notas de casca d'árvore e alguns torrados. A fruta está em grande quantidade, e sempre num estilo madurão e muito concentrado.

Na boca, com alguma suavidade, o vinho apesar de corpulento, tem já os taninos educados. Com baixa acidez e falta de profundidade, cheio de extracção, carrega-nos a boca de fruto maduro bem ligado com notas do estágio, especiarias, tabaco e alguma baunilha. Apesar de proporcionar um final persistente, as notas de compotas e o toque doce acabam por pesar um pouco. Não é nem de perto um Syrah fresco e alegre, é um Syrah feito para ser bebido fresco, pois o álcool é elevado e a acidez é baixa. Talvez com alguma gastronomia alentejana a coisa mude de figura. Os 15 euros terão que ser bem pensados, mas acreidto que haja consumidores que gostem deste estilo "docinho". Eu não sou muito fã.

Nota 15,5
Preço 15 euros
Produção 14.000 garrafas

segunda-feira, outubro 08, 2007

Monte Seis Reis Tinta Caida 2004

Já o ano passado tinha provado os vinhos de entrada de gama deste produtor alentejano. Na altura provei o tinto Bolonhês 2003 e os Boa Memória branco 2004 e tinto 2003. O Monte Seis Reis, (que tem um espectacular site online em www.seisreis.com) tem, durante o ano várias exposições na sua adega, mostrando que o vinho além de um "produto alimentar" tem também uma forte vertente cultural. Este varietal de Tinta Caiada fermenta em lagares com pisa a pé, passando para barricas de carvalho francês onde estagia 9 meses.

Com 13,5%Vol, este tinto apresenta uma cor violácea de boa concentração.
No nariz, o primeiro impacto dá-nos a noção de muita extracção, com muitos aromas intensos. Forte expressão floral, lembrando perfume feminino, vegetal, alguns aromas mais quentes, com carvão, marmelada e um fundo animal de bom nível. A fruta está cá e mostra-se bem madura, no estilo compotado aliada a uma boa dose de especiarias. Um nariz muito exuberante, com alguma complexidade, mas também vaidoso que acaba por pecar num tom enjoativo. Madeira perfeitamente integrada nesta mescla de aromas.

Na boca, bom volume de boca, o vinho mostra-se denso, apostando novamente em mostrar tudo ao mesmo tempo. Goma, vegetal e muitas compotas tornam a pesar um pouco. Descobre-se uma ligeira doçura. Taninos elegantes e estruturados, a boa acidez permite que tenhamos um final persistente, mas com muita especiaria doce e uma grande dose de baunilha. Um vinho que não prima pela elegância e sobriedade, dá uma boa prova, com muitos descritores, no entanto acaba por nos cansar um pouco à mesa. Dar-lhe tempo em cave pode ser uma boa opção.

Nota 16
Preço 14 euros
Produção 7.000 garrafas