segunda-feira, abril 30, 2007

Grou 2004

Voltemos ao Alentejo na zona do Cabeção...
Já há algum tempo, provei o Grou 2 2004. Era um vinho irreverente no estilo (só Inox) e no carácter. Tenho agora para apresentar o Grou 2004. Topo de gama da Soc. Agr. Vale da Joana e é, como tenho dito por aí, um dos grandes vinhos alentejanos e que me enche por completo as medidas.

Predominante o Alicante Bouschet (70%), Trincadeira (12%), Aragonês (12%) e Touriga Nacional (6%), o vinho estagiou depois em barricas novas de Carvalho Francês durante 8 meses.

Com 14,5%Vol apresenta uma grande concentração na brilhante cor granada.
No nariz, muito austero, cheio de notas silvestres, com uma frescura impressionante, com muita menta e eucalipto, num perfil sério e com grande complexidade. A madeira está aqui plenamente integrada, com algum fumo, tabaco, especiarias em conjunto. Um aroma fino e muito refrescante, que foge um pouco aos padrões mais quentes da planície alentejana.

Na boca, com grande estrutura, a classe volta a imperar, com uma entrada acetinada, taninos de luxo, muito fruto silvestre, perfume floral, toque mentolado refrescante, novamente com a madeira bem casada, com notas de frutos secos e uma grande profundidade. A acidez é surpreendente, com um volume de boca geométricamente perfeito, conseguindo preencher todas as arestas. Forte, complexo, e fresco, num final longo, com chocolate e notas da madeira de grande nível.
Um belo vinho, viciante (sou suspeito, pois gostei mesmo muito dele), com um perfil muito próprio, embora seja muito concentrado não é uma bomba de fruta, o que lhe traz o tal apelido de vinho complexo. Potente e audaz, capaz quem sabe de se evoluir ainda mais em garrafa.
Ah, o enólogo é o Anselmo Mendes, que faz pela primeira vez um Alentejano. E que bem que o fez!

Nota 18
Produção 8.000 garrafas

terça-feira, abril 24, 2007

Um ano

Pois é... Já faz um ano desde o 1º post no Vinho da Casa. Um para mim, trinta e três para a liberdade. Não faço a mínima ideia se este blog teria lugar nos tempos escuros e deprimentes da nossa ditadura, pois já nasci em plena liberdade. Nunca experimentei a ditadura, mas também não faço tenções para isso.

Ao longo deste ano muito aprendi, muito li, muito ouvi, e claro, muito provei. Tive oportunidade de conhecer alguns produtores, participar em muitas provas, participar em eventos vínicos conhecer outros malucos como eu que dedicam um blog ao Vinho e conhecer sobretudo muitos enófilos perdidos na maré...
Foi um ano muito intenso, e que me obrigou a levar isto com mais seriedade do que a que eu estava à espera. Sou um puro amador, mas sinto que este espaço que criei me abriu oportunidades para melhor aprender e para me esforçar por isso, pois mais não seja com um blog estou exposto, logo aberto a críticas. Durante estes 365 dias tive cerca de 31.500 visitas e quase 19.000 visitantes. Pode ser pouco, eu sei, mas para mim é um número que me assombra. São cerca de 85 visitas diárias ao meu blog. A todos eles e por todos eles o muito obrigado por terem feito com que este blog tivesse andado para a frente, pois para aqueles que me conhecem melhor sabem que só funciono sobre pressão. Continuem-me a pressionar para ver se aprendo um pouco mais a cada dia que passa.

Como espaço pessoal de crítica e prova de vinhos ( é assim que defino este blog), nada melhor que brindar o 1º aniversário com dois excelentes vinhos. Um deles, feito com lotes de colheitas ainda no tempo do nosso (infelizmente) imortal ditador. Falo-vos dum Porto 40 anos de grande nível, engarrafado em 2000 para a celebração do milénio. O outro, um dos grandes vintages do século passado, pois ainda agora nesta edição de abril da Revista de Vinhos foi a estrela da prova no painel de vintages da mítica(?) colheita de 1994. Curiosamente este dois vinhos são a 99º e a 100º nota de prova publicada. Espero aumentar o número de notas de prova, o que vai ser difícil, pois estou a terminar a minha licenciatura e a vida de estudante é difícil. Prometo no entanto, que não baixarei de duas notas de prova por semana.


Um grande bem haja para todos os que seguem o meu projecto, e viva a liberdade!


Sandeman 40 anos
Coloração ambar com reflexos castanho-avermelhados.
No nariz, mostra-se exuberante e hiper-complexo, repletos de aromas profundos com uma limpeza enorme, madeira molhada, funcho, canela,charuto, frutos secos em grande abundância, amêndoas, nozes, notas licorosas. Tudo muito equilibrado e com um nível impressionante, um vinho que nos prende ao copo a nos deixa preplexo a cheirá-lo tentando perceber como é possível. São poucos os 40 anos que provei, mas este aroma é inexplicável e senhor de uma classe única.

Na boca, extremamente melado, com uma acidez muito equilibrada com o açucar, trazendo uma sensação de harmonia ímpar, suave e fresco, cheio de complexidade, deixando notas de geleia e muita especiaria, num final ascendente e interminável. O palato fica inundado de aromas e de seda seguramente bem mais de um minuto.
Um vinho único e que provoca sensações inexplicáveis. Por muito que tente, não consigo escrever o que senti.
Nota 19

Graham's Vintage 1994
De cor rubi, ainda com uma boa densidade, com ligeiros reflexos vermelho escuro no anel.
No nariz, sizudo e sem se querer mostrar, muito austero e senhor de si, a pouco e pouco mostra uma extrema complexidade aromática, com fruta preta muito madura, erva seca, especiarias e um perfil vegetal de fundo ao lado de um traço balsâmico e floral. Mostra-se claramente narcisista e irritado por o termos acordado.

Na boca, a mesma sensação se verifica, com extrema potência e estrutura, carregado de frutos pretos, num perfil não muito guloso, algo seco, com taninos de grande classe e cheios de potencial, mostrando que ainda está aqui para as curvas e disposto a proporcionar grandes alegrias a quem o provar no seu auge. Embora não tenha obviamente capacidade para prever quando estará no seu apogeu, esta altura não é certamente e ainda não passou. Final longo, fresco, com clara predominância no chocolate preto misturado com fruto preto e ligeira especiaria.
Deu-me muito prazer em prová-lo, mas deu sobretudo para ter noção do que é um Vintage "fechado para obras". Segundo diz a Revista de Vinhos, e ainda bem que o diz, é um Vintage para guardar.
Nota 18,5

As notas são meramente indicativas do prazer que me deu, e daquilo que eu acho que valem, ainda assim não tenho qualquer pudor em assumir o que escrevo ( viva a liberdade de expressão camaradas)... Também é verdade que não tenho "estaleca" para avaliar Vintages ou Tawny's deste nível, já nos tintos e brancos é o que é. Talvez para o ano, ou para o próximo quem sabe!

Obrigado a todos vós mais uma vez...

25 de Abril Sempre
Como diz um dos meus compositores portugueses preferidos:
APRENDE A NADAR COMPANHEIRO...
QUE A MARÉ SE VAI LEVANTAR...
QUE A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI...

segunda-feira, abril 23, 2007

Odisseia Touriga Nacional 2004

Jean-Hugues Gros, enólogo francês, que durante muitos anos deu apoio enológico a várias marcas de vinhos do Douro. Em 2004, decidiu arrancar com um projecto seu, trabalhando as vinhas do Vale do Távora, e lançando para o mercado a marca Odisseia. Conseguiu encher 8.000 garrafas nesse ano, mas foi na casta Touriga Nacional que Jean-Hugues se fixou e fez um mono-varietal de grande nível, um extreme que deu apenas para encher 2.000 garrrafas.
A Touriga Nacional foi feita em tradicionais lagares de granito, onde depois passou para o Carvalho Francês, sendo apenas 40% de barricas novas.

Com 14%Vol. o vinho mostra uma coloração rubi muito densa, quase opaca e com grande concentração.

No nariz, o aroma é impressionante, austero e muito firme, com muitas notas florais típicas da TN, violetas, um ligeiro toque químico e uma clara presença de erva seca e de vegetação duriense, lembrando uma tarde quente de início de verão. Cheio de complexidade, o rosmaninho e a esteva misturam-se com a fruta de compota, toques ligeiros da barrica, com uma tosta ligeira e notas de chocolate, tudo muito extraído e muito vivo.

Na boca, o nome Odisseia começa-se a entender, tudo aqui é bruto, tudo é violento, um vinho pastoso, de grande concentração, estilo after-eight, com uma acidez moderada que lhe garante o suporte para tal arcaboiço, tornando-o num vinho fresco, ainda que carnudo. Os taninos são de grande qualidade, ainda que ligeiramente secos, mostrando que precisa ainda de calma para ser bebido. A madeira está muito bem integrada, com café e tabaco seco, com um final muito compotado, de grande comprimento e cheio de complexidade. A harmonia de conjunto consegue fazer com que um vinho bruto se torne elegante e atraente.

Bebê-lo é uma autêntica Odisseia, pois a força e a super-concentração que apresenta não é para qualquer um. Força bruta elegante, assim o gostei de definir. Um belo exemplar da Touriga Nacional a beber já para quem for aventureiro. A um preço excelente. Belo vinho. Se os gregos soubessem o que por cá se faz...

Nota 18
Preço 22 euros
Produção 2.000 garrafas

domingo, abril 22, 2007

LBV 2001 e Colheita 1994 Niepoort

Mais uma incursão na casa Niepoort, desta vez para aquilo que a tornou mundialmente conhecida, os Porto's, principalmente os Colheita, pois esta casa no séc XIX e XX era mais premiada pelos Tawny's datados do que pelos Vintage ( já para não falar nos Garrafeira, aqueles demijons de quase 10 litros que ficam esquecidos ali nas caves da íngreme Rua Serpa Pinto).

Começando pelo Colheita 1994, é um Tawny de uma só colheita, oriundo das vinhas do Vale do Pinhão e do Ferrão, com um estágio mínimo de 7 anos em pequenos barris velhos. Este Colheita foi engarrafado em 2005, tendo portanto cerca de 11 anos em contacto com a madeira.

Colheita 1994
Como manda a Lei tem 20%Vol.
A coloração essa é ambâr ainda com laivos avermelhados e ligeiro rebordo alaranjado.

No nariz, o aroma é todo ele superlativo, com nuances de frutos secos, com especial destaque para a amêndoa, muita canela, figos secos, bolo e geleia. Muito equilibrado e profundo, o perfume não cansa, pois a presença da madeira está em perfeita harmonia com a frescura da casca de laranja.

Na boca, com uma entrada típica de um Tawny, fresco, gorduroso e com um aveludado. Largo e harmonioso, pleno de elegância com o açucar residual a não cansar, com uma acidez fantástica, a mostrar que está em perfeitas condições quer de ser bebido, quer de ficar em garrafa a ganhar a tal complexidade de "garrafa". (Perdoem-me o pleonasmo) O final de boca é longo, melado, especiado e com notas de citrinos.
Nota 17


Mudando claramente de estilo, vamos para o irmão mais novo do Vintage, onde o estágio é feito em barricas grandes, para o vinho não ter tanto contacto com a madeira, e engarrafado 5 anos depois ( 2006). As castas são misturadas de vinhas com mais de 70 anos da zona do Vale do Pinhão, do Ferrão e da Vinha da Pisca.

LBV 2001
Também com 20%Vol. apresenta uma cor rubi de grande concentração.

No nariz, o estilo austero e jovem é impossível de se esconder, com muito nervo e até algo fechado, cheio de notas químicas, violetas, muito fruto, amoras, cerejas, ameixa preta. Um aroma claramente cheio de força mas já muito equilibrado, onde raspas de chocolate preto se fundem com pimentas.

Na boca, rico e pastoso, ( o estilo unfiltered talvez venha aqui ao de cima) com taninos bem aguerridos, com vontade de explodir na boca. O perfil "bruto" é plenamente contrabalançado com a finesse da fruta preta, com a riqueza do chocolate preto e com uma boa acidez que traz elegância e frescura. O final é uma vez mais muito dinâmico, longo e picante, cheio de notas especiadas.
Nota 16,5


Dois vinhos diferentes, quer no conceito quer no efeito. O Colheita é um vinho delicado, muito harmonioso e que quase que nos puxa para ficarmos apenas a cheirá-lo, pois é perfeitamente possível andar à pesca de aromas aqui e ali. O LBV é um estilo muito austero e com vontade de dar asas à liberdade culinária, podendo mesmo servir de fiel companheiro para muitos pratos, como sugere a própria Niepoort com um steak au poivre.

quinta-feira, abril 19, 2007

Gravato Palhete 2004

"Passados muitos anos, eis que surge de novo o "Vinho da Mêda", que foi outrora tão cobiçado no Porto e seus arredores. Este vinho era sujeito a um grande controle devido às tentativas de contrafacção que acabaram por surgir e, de certo modo acabaram com a imagem que tinha o "Vinho da Mêda".
Com o decréscimo da procura, os vitivinicultores da Mêda replantaram as suas vinhas com uvas mais rentáveis como são as Tourigas Nacional e Franca, ou Tinta Roriz o que levou ao total desaparecimento do "Vinho da Mêda".
Hoje em dia poucos são os que se lembram do Vinho da Mêda também conhecido como Palhete da Mêda ou Palheto da Mêda, mas os que se lembram recordam com saudade o tão afamado vinho e anseiam por uma oportunidade para partir numa viagem em senda dos sabores do passado. Os mais jovens, que em grande parte desconhecem o vinho aproveitam e agradecem a possibilidade que lhes é dada para provar um vinho diferente."

Pois bem, é a primeira vez que provo um palhete. É um vinho feito em inox, com uvas de castas tintas e uma percentagem de uvas de castas brancas. Este Gravato da Beira Interior tem Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Rufete e Rabigato, tudo de vinhas com mais de 50 anos.

Com 13,5%Vol apresenta uma brilhante e delgada cor rubi.
Provado a 11ºC deixando o vinho evoluir no copo.
No nariz, cativante e bastante aromático, a fruta vermelha, ameixas, morangos, cerejas, estão em sintonia com um lado vegetal e mentolado muito fresco. Algumas notas de borracha e de algumas flores trazem um nariz equilibrado e correcto.

Na boca, algo directo a uma temperatura baixa, com a acidez e a frescura ( talvez do Rabigato) a marcarem a prova, com fruta muito fresca num toque mais rústico e lembrando engaço, num final com boa duração ainda que bastante simples. Com o evoluir da temperatura, as notas florais aparecem, assim como algum químico, o vinho mostra-se mais estruturado, perfumado mas sem pesar pois a acidez não arreda pé, nunca caíndo em grandes doçuras.
Um vinho sui generis pela sua essência, algo démodé até, ainda que muito interessante, pois estar a apreciá-lo a várias temperaturas pode ser um bom exercício didático.

Nota 14
Preço 5 euros
Produção 6700 garrafas

quarta-feira, abril 18, 2007

Luis Pato Espumante Maria Gomes

A Bairrada é das zonas portuguesas com mais tradição no que toca à produção de vinhos espumantizados.
Luis Pato fez este espumante apenas com a casta Maria Gomes oriunda de solos argilo arenosos, através do método champanhês com estágio apenas em inox.

O espumante apresenta uma boa cor amarela citrina muito alegre com bolha viva e correcta.
No nariz, muito fresco, citrino ( ananás, limão) e com aromas a fósforo, pedra, e alguma bolacha o que lhe confere alguma elegância aromática. A frescura mineral e as notas limonadas são as que mais imperam no aroma, mostrando ser um espumante alegre de fácil acesso.

Na boca a bolha tem uma boa suavidade, forrando ligeiramente o palato, ainda que a acidez seja bem altae faça aqui um contrapeso, tornando o vinho muito equilibrado. De ligeira untuosidade, impondo-se outra vez as notas citrinas, com alguma tosta e um ligeiro sabor a medicamento( que já vai sendo característico quando provo a casta Maria Gomes). Final mineral e frutado, ligeiramente cremoso e de bom nível.
Um espumante claramente apetecível e feito para iniciar uma refeição num dia de calor, com entradas frias.

Nota 15
Preço 6 euros

segunda-feira, abril 16, 2007

Quinta do Carqueijal 2004

Em Poiares, na região Duriense, fica a Sociedade Agrícola Quinta Seara D'Ordens, que tem um portfolio de vinhos considerável, desde os Porto, aos vinhos tranquilos, com cerca de 15 referências. Os Quinta do Carqueijal ( branco, tinto e rosé) situam-se como entradas de gama, a preços simpáticos.

Provei o tinto da colheita de 2004, que é feito com Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Roriz, com um estágio de 4 meses em Carvalho Francês.

Com 13%Vol apresenta uma cor granada jovem de média concentração.
No nariz, o primeiro impacto é de alguma rusticidade, com notas de couro, animal, com muito vegetal, num tom vivo e alegre. Fresco e frutado, simples mas equilibrado, as notas de fruta vermelha, morango, maça vermelha, cassis e algum chocolate estão muito bem integradas num toque de madeira aqui e ali.
É de notar o perfil clássico e fresco que este produtor aposta nos seus vinhos, já o Seara d'Ordens 2003 apresentava este estilo, mas mais exuberante e complexo.

Na boca de perfil delgado, com boa acidez, com um corpo ligeiro, que nos dá uma prova correcta, com grande frescura, muita fruta vermelha, agum perfume floral, onde os taninos estão bem redondos, trazendo-nos ao palato novamente o perfil clássico, quase com notas licoradas, num final honesto mas capaz, com as notas mais secas da madeira a trazerem alguma profundidade.
Um vinho bem feito, claramente de entrada de gama, mas muito bem para o preço. De realçar o perfil seco do vinho, pois nesta classe de preços é muito comum a presença de açucar residual, apenas para agradar o consumidor guloso.

Nota 15
Preço 3,5 euros
Produção 20.000 garrafas

terça-feira, abril 10, 2007

1ª Prova Cega - Tintos até 10 euros

Pela primeira vez, aventurei-me em casa a provar vários vinhos em prova cega.
Juntei dois vinhos Alentejanos e dois vinhos do Douro, todos a preços abaixo dos 10 euros.
Foi este o único factor de comparação, pois os anos são diferentes.
Diverti-me bastante, os vinhos puxam por nós e os resultados foram curiosos. Já não é a primeira vez que provo em prova cega, mas com o moleskine e com a caneta na mão é a primeira.
Penso que daqui em diante, vou por vezes abrir 3 ou 4 garrafas e recorrer a este estilo de prova.
Apesar de saber quais os vinhos em prova, nunca os tinha provado anteriormente.
Os vinhos foram os seguintes:
Dona Maria 2004
Fagote 2004
Monte da Peceguina 2005
Quinta Seara D'Ordens 2003


Aqui ficam as minhas notas:

Dona Maria 2004
Tinto com 14,5%Vol. vindo das vinhas de Estremoz do produtor Júlio Tassara de Bastos com Aragonês (50%), Cabernet Sauvignon ( 20%), Alicante Bouschet (15%) e Syrah (15%), estagiados 6 meses em Carvalho Francês e Americano.

Cor jovem, granada e de média concentração.
No nariz, cativante, bastante fresco e mentolado, com uma grande dose floral. A envolvência tostada da madeira está muito bem integrada, com ligeiro fumado, onde a fruta, nada madura, lembras bagas silvestres juntamente com notas de chá verde e muitas especiarias. Um aroma muito sui generis, afinado e num fundo balsâmico.
Na boca, o vinho apesar de ter bom volume, ele é todo apoiado numa acidez elevada, que lhe traz grande frescura, muito perfumado, sempre com toques balsâmicos e achocolatados aqui e ali, com os taninos bem afinados, num final médio-longo, especiado e com notas de tabaco.
Um vinho muito bem feito, que dá prazer e que pede para ser bebido, quer no cativante aroma, quer no fresco e afinado paladar. Um pouco mais de complexidade e persistência e estava aqui um senhor vinho.
Nota 16
Preço 8 euros


Fagote 2004
Tinto com 13%Vol. da Companhia de Vinhos do Douro, nascido nos solos xistosos do Douro Superior, com Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Franca, que estagiam 12 meses em Carvalho Francês.

Com uma cor rubi jovem e de boa concentração.
No nariz, ainda algo fechado, com uma certa dose de mineralidade, que talvez o desmascare logo, com fruta fresca, ameixa, morangos e groselhas (xarope). Equilibrado e com alguma complexidade, as notas florais estão cá, notando-se também um pouco de borracha e chocolate amargo. A madeira está perfeitamente integrada no vinho, sem nunca se sobrepôr, com uma tosta ligeira a envolver. Um nariz fresco, elegante e muito mineral, fora das modas de bombas-fruta.
Na boca, de volume mediano, com taninos ainda algo secos e trazerem alguma austeridade, de acidez bem vincada, fresco e acima de tudo elegante. Fruto fresco muito discreto, num tom ligeiramente vegetal, com algumas notas da madeira, chocolate preto e algum fumado. Final de boca médio, com notas de especiarias e mineral.
Um vinho muito equilibrado, sem grandes exuberâncias, discreto e elegante. Mostra claramente que se pode apreciar bons vinhos sem exageros frutados.
Nota 16
Preço 8 euros

Monte da Peceguina 2005
Tinto com 14%Vol. das terras solarengas a sul de Beja da Herdade da Malhadinha Nova, com 40% de Aragonês, 20% de Alicante Bouschet, 15% de Touriga Nacional, e 10% de Alfrocheiro, estagiado em barricas novas de Carvalho Francês e Americano durante 6 meses.

Opaco, retinto e uma brilhante cor rubi.
No nariz, o aroma é intenso e nada envergonhado, com fruta preta e vermelha muito madura e muito densa( amoras, framboesas, cerejas...) quase que a saltar do copo de cada vez que o rodamos, juntamente com notas achocolatadas misturadas com tabaco. Um nariz quente e torrado, com a barrica bem presente , mas sem cair em aromas enjoativos, pois o floral e um leve vegetal(erva seca) trazem alguma frescura e complexidade aromática.
Na boca, entra denso e com vontade de mostrar toda a força, com a fruta uma vez mais a marcar o ponto, estilo compota, acidez suficiente, algum fumo, com a madeira ainda bem marcada no vinho. Os taninos estão muito bem afinados, com uma prova de boca muito envolvente, encorpada e acima de tudo equilibrada, com um final de média duração e algo doce e especiado. Se o final tivesse mais alguma complexidade estávamos perante um vinho muito bom. Ainda assim é um belo vinho. Mas sabendo que estamos abaixo dos 10 euros, não se pode pedir mais.
Nota 16,5
Preço 9 euros

Quinta Seara d'Ordens Col. Selec. 2003
Tinto com 13,5%Vol., vindo da zona de Poiares, da Soc. Agr. Quinta Seara D'Ordens, que produz também Vinho do Porto, e com um postfólio enorme. Feito com 40% de Touriga Franca, 30% de Touriga Nacional e de Tinta Roriz, com um estágio de 10 meses em Carvalho Francês e um estágio em garrafa também de 10 meses.

Cor rubi de média concentração.
No nariz o primeiro impacto é de um forte pendor vegetal, muita erva seca, com algum toque animal ( que ao longo da prova desaparece). A fruta está presente ainda que algo tímida, com fruta vermelha não muito madura misturada. O classicismo parece imperar no aroma, onde se descobrem algumas notas de couro misturadas com caramelo, onde a madeira aparece com notas mais modernas de baunilha, cacau e algum fumo.
Na boca, de corpo mediano, com acidez também mediana e equilibrada, onde os taninos estão presentes mas não perturbam. Boa profundidade, perfumado e com a madeira a envolver um paladar elegante, algo rústico, apoiado no vegetal, no fruto vermelho, com um final longo, com notas de fumo e cacau.
Um vinho clássico, bem feito e que consegue ser identificado com facilidade perante os outros 3 vinhos em prova, pela sua personalidade vincada. Um vinho com carácter e de certeza que muito capaz de ligar com pratos tradicionais ( enchidos, feijoadas, cozidos...).
Nota 15,5
Preço 6 euros

Foi uma prova interessante, onde o Dona Maria me surpreendeu, pois a boa acidez que tem nunca me fez pensar que fosse do Alentejo, e onde o Seara D'Ordens também se mostrou claramente diferente dos outros 3. Ao preço do Seara é uma excelente aposta para quem procura vinhos mais clássicos.

Apeteceu-me eleger um prémio a cada um:

Prémio mais exuberante - Monte da Peceguina
Prémio mais afinado - Fagote
Prémio mais clássico - Seara d'Ordens
Prémio mais nómada - Dona Maria

terça-feira, abril 03, 2007

Poeira 2004

"O Poeira é um vinho feito a partir de vinhas muito velhas, com castas diferentes e uvas e qualidade variável. Assim, a primeira grande preocupação é a escolha das uvas cacho a cacho e mesmo bago a bago para que tudo vá para o lagar em óptimas condições.
Numa quinta com exposição a Norte, onde se consegue um amadurecimento das uvas muito mais lento, preservando melhor os aromas, os sabores e a acidez."

É isto que Jorge Moreira nos diz sobre o Poeira no seu site. E é este o "segredo" que fez com que o vinho desde a sua primeira edição apaixonasse tudo e todos, esgotando rapidamente e claro, com uma qualidade inolvidável.
Em 2004, um ano muito equilibrado no Douro, o Poeira 2004 vem com 14,5%Vol e com um estágio de cerca de 16 meses em barricas novas de Carvalho Francês. As castas são as tradicionais do Douro misturadas nas vinhas velhas com mais de 60 anos, e vinha nova com Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Barroca

No nariz, o vinho mostra-se misterioso, fechado, soltando apenas uns aromas florais e alguma frescura. Com a decantação prévia, começa a mostrar nos aromas uma digna elegância e de grande complexidade, com um mineralidade incrível, vegetação duriense, com aromas de rosmaninho, urze, violetas, frutos pretos de baga e alguns frutos vermelhos, toque químico, tudo envolvido numa barrica de grande nível e muito bem integrada, com alguma especiaria e cera de móvel.

Na boca tudo é harmonia, o vinho entra fresco com uma delicadeza subtil, afinadíssimo e aprumado. Todas as suas valências estão em cada sítio como que alinhadas. Impressionante a forma como o vinho se comporta, com taninos finíssimos e de grande classe, acidez elevada, frescura ímpar, profundidade espectacular. Apesar de ter uma grande estrutura e concentração, a sua excelente acidez e frescura trazem um vinho fino e elegante com notas de frutos vermelhos, grafite e muitas especiarias. O final é rico, complexo, longo e outra vez fresco.

Frescura e aprumo são duas palavras que assentam na perfeição. É também assombrante a forma como o vinho evolui no copo...algo estilo pilhas duracell ( e dura e dura e dura). Digno dos grandes vinhos, este vinho durou cerca de 4 horas no meu copo e a cada meia hora estava melhor, conseguindo com o tempo mostrar um nariz mais exuberante, com algum chocolate amargo, embora a frescura nunca se tenha perdido. Acreditem ou não mas guardei um pouco na garrafa e no dia a seguir estava dislumbrante ainda.
Grande vinho
e que merece toda a atenção que possamos ter ao apreciá-lo. Não sou a Dona Maya, mas de certeza que este vinho daqui a uns anos será uma obra de arte. Para já ficamos à espera que ele perca a timidez e que ganhe ainda mais complexidade( mais ainda?).

Poeira é coisa que este vinho não tem.
Nota 18
Produção 49 barricas
Preço 25 euros