quinta-feira, janeiro 11, 2007

Redoma 2004

Redoma, dizem os dicionários que é uma campânula de vidro, convexa, destinada a guardar do pó objectos delicados. Para mim, uma redoma é uma garrafa bordalesa que envolve um delicado líquido feito pela casa Niepoort, onde em 0,75 l se tenta reflectir o Douro no seu todo.
Na Niepoort, a colheita de 2004 é simplesmente magnífica, super-equilibrada e com vinhos excepcionais. Das vezes que os provei pelos vários eventos e jantares, o Redoma para mim é um vinho fenomenal, e até o prefiro ligeiramente ao Batuta ( mais tarde publicarei a nota de prova). O Charme, claro, é de outro estilo.
Não apenas nesta casa, penso que a colheita de 2003 levará sempre a melhor no que toca a vinhos do Douro, pois o peso da colheita de Porto's de 2003 é algo difícil de transpôr.
Para aqueles que me seguem fielmente ( sim vocês os 3), acreditem, 2004 é um grande ano para os vinhos do Douro e bem melhor que a colheita de 2003.
Este tinto foi a primeira grande marca que Dirk Niepoort implementou na sua casa no que toca a vinhos tranquilos, desde o início dos anos 90. Provém actualmente de variadas vinhas velhas viradas a norte, todas com mais de 60 anos, com castas tradicionais do Douro, algumas menos conhecidas actualmente, tais como o Tinto Cão, a Tinta Amarela, a Tinta Francisca e o Sousão.
O lote estagia durante 18 meses em barricas de Carvalho Francês.

Com 14%vol e uma cor rubi com reflexos púrpura de grande concentração.
No nariz o vinho mostra classe, profundidade, com uma entrada fresca e ligeiramente química, quase lembrando borracha e algum eucalipto. Com o agitar do copo, a excelência da barrica dá de si, com as notas tostadas e o cheiro a móvel encerado a desmultiplicar-se com a esteva e a fruta, com amoras, ameixas pretas e romãs, num fundo mineral com aromas de grafite.

Na boca, carnudo, o vinho tem uma densidade muito boa, quase mastigável, com taninos de grande nível, muita fruta fresca, especiarias e chocolate preto. A capacidade de preencher todos os cantos da boca neste vinho é incrível. Tudo isto numa envolvente suavidade digna de um grande vinho, elegante e com um final muito bom, mineral, onde as notas de baunilha e especiarias se prolongam... e prolongam e prolongam.
É um prazer beber este vinho, completamente afinado e muito bem trabalhado. Aguerrido mas delicado, bruto mas bem-educado, cativante e persuasivo. Quase de certeza que estará cá para ser apreciado durante largos anos.

É um fusão talvez da rusticidade e tipicidade das áridas mãos dos trabalhadores das terras durienses e da elegância e civismo das gentes das terras baixas metidos dentro de uma Redoma, perdão, garrafa.

Nota 18,5
Preço - 25 euros
Produção - 18300 garrafas

3 comentários:

  1. Somos 4 se contares comigo :)

    Bom artigo que me deixa com água na boca.

    1 Abraço

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  2. Obrigado Luis!

    Tive a dar uma olhadela no teu Blog, tá bem fixe! Um pouco generalista, para nos podermos informar um pouco de tudo.

    Abraço,
    Paulo Silva

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  3. Bebi um Redoma tinto 2004 e apeteceu-me cantar e escrever poemas, sorrir sincera e paternalmente a toda gente, mesmo aos gajos das finanças e aos polícias pensando baixinho: "eles não sabem". O final de boca prolongou-se aí uns dois dias durante os quais o mundo me pareceu um local maravilhoso para passar a vida. Então, em consideração pelas hierarquias, comecei a juntar uns trocos para dar uma volta num paraíso a que chamam Charme e eis que encontro um tipo experiente que diz que o Redoma é melhor ainda que o Charme. Dá que pensar. É que um Charme dá para três voltas na Redoma.

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