segunda-feira, dezembro 18, 2006

Uma passagem pelas Beiras

Em direção à famosa zona do Leitão, virando para a Anadia, e por uns caminhos apertados, cheguei à Amoreira da Gândara, onde Luís Pato tem a sua adega. Luís Pato, para quem não souber, é o grande homem que revolucionou a casta Baga, e com muito orgulho afirma que é uma casta com semelhanças à italiana Nebbiolo.

Actualmente os vinhos de Luís Pato estão com grande sentido internacional, como é o caso do branco Maria Gomes, que vende muito no Japão por ter o nome “Maria” associado. Ao que me foi dito as japonesas gostam muito que o vinho tenha um nome feminino, talvez estejam finalmente a conseguirem emancipar-se?

As instalações foram recentemente remodeladas, e o grande salão de estágio situado abaixo do solo, está neste momento protegido por uma enorme camada de relva, o que lhe traz excelentes condições de conservação, principalmente em questões de humidade.

Provei amostras de barrica da colheita de 2005 dos tintos, Vinhas Velhas, Vinha Pan e Vinha Formal, os três ainda muito crús, em construção mas já com alguma elegância e acima de tudo frescos, cheios de menta e de frutos silvestres e com uma acidez muito bem colocada.

Com tempo ainda de visitar a enorme sala de guarda, onde Luís Pato tem uma enorme estrutura metálica, onde guarda cerca de 10.000 garrafas de colheitas antigas, seguimos em direcção a um grande caixote branco. Ora pergunto eu, o que faz uma arca frigorífica aqui no meio disto tudo? Pois, se Luís Pato é vanguardista, então que dizer da sua filha, Filipa Pato, que se lembrou de fazer um Icewine em plena Beira Litoral!
Se aqui não há gelo de forma natural, arranjou-se forma de o fazer...
Lá dentro da câmara frigorífica, a cerca de -2ºC estava uma barrica nova, com o tal vinho de gelo. E de 2006! Perfeito, simples e com aromas muito arejados. Foi o primeiro vinho de 2006 que bebi. Com muito medicamento no aroma, com aroma a uva, isso mesmo, uva e alguma mineralidade. Doçura, nem vê-la, tem cerca de 100 gramas de açúcar residual, mas nem se nota.

Com esta visita, deu para perceber a juventude que vai dentro do produtor, a facilidade e frontalidade com que fala do vinho e, acima de tudo, uma enorme simpatia e abertura para com aqueles que o querem visitar.

Depois de muita conversa, o leitão já esperava e lá fui em direcção à Mealhada.
Aqui ficam também algumas notas de prova de alguns vinhos provados, todos engarrafados e da colheita de 2005.

Luís Pato Maria Gomes 2005
Ligeiro na cor, com uma boa entrada citrina, notas de limão, ananás, floral qb, ligeiro medicamento, num tom perfumado e afinado. Bem na boca, com a acidez a dar um toque fresco, ligeiro, mas com uma certa untuosidade que acaba por trazer algum corpo ao conjunto, com alguma doçura de fundo, com um final elegante e perfumado.
Nota 15

Luís Pato Vinhas Velhas branco 2005

Este vinho tem um estágio em barricas de Castanho, 40% e o resto em inox.
Bem na cor, com mais concentração que o Maria Gomes.
Boa entrada tostada, com o vinho a espelhar o seu terroir, pois o fumado e a tosta não provêm do habitual "carvalho" mas sim do solo argilo-calcário. (Ensinamento do próprio Luís Pato, pois eu estava convencido que este aromas era do contacto com a madeira).
Aparecem também aqui espargos brancos e pimenta branca num perfil bastante elegante. Muito floral, com ananás, num tom fresco, com notas de grafite e ligeiro vegetal a trazer-lhe uma boa complexidade aromática.
Com corpo na boca, envolvente e delicado, com a acidez equilibrada e de perfil mineral, com muitas notas citrinas, a madeira presente mas sem desafinar o conjunto, trazendo-lhe elegância na boca, e que acaba num final perfumado e com notas de hortelã.
É um vinho muito bem feito, com a acidez/fruta/madeira em perfeita sintonia e com corpo suficiente para acompanhar uns peixes gordos.
Nota 16

João Pato Touriga Nacional 2005
Negro, com ligeiros reflexos rubi.
No nariz, um bom primeiro impacto floral, com notas de violeta, alguma tinta da china, muita menta, arbustro e bagas silvestres.
Apresenta um aroma muito fresco e enérgico, cheio de força, com um fundo mineral interessante.
Na boca o vinho permite uma prova agradável, com taninos firmes e bem educados, trazendo algum equilíbrio com a boa acidez que apresenta. Com boas notas herbáceas e frutadas, permitindo um bom final de boca, longo e mastigável, lembrando frutos silvestres.
Talvez um pouco mais de garrafa, poderá vir a trazer mais elegância ao vinho, mas para já está muito bem este Touriga Nacional.
Nota 16

1 comentário:

  1. Luís Pato é um nome grande. Felizmente não é o único na Bairrada. Pena é que a região ande tão por baixo, quer em vendas quer em qualidade.
    Por mim, continuo fiel, à Bairrada e a Luís Pato. Boas provas!

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