segunda-feira, janeiro 29, 2007

Encosta do Sobral 2005

Tomar foi a cidade que me acolheu até à minha vinda para o Porto em 2001.
O Porto é uma cidade fantástica, moderna e pura, mas Tomar é sem dúvida alguma a cidade mais bonita do nosso país.
Nas encostas xistosas da Serra de Tomar, entre uma sinuosa estrada que todos os anos faço com a minha família até chegar à Albufeira de Castelo do Bode fica a Encosta do Sobral, projecto recente da família Sereno e ajudado pelo enólogo João Melícias.
O branco de 2004, no painel da Revista de Vinhos onde o tema era "Brancos com madeira", ficou num belíssimo segundo lugar.
Este branco de 2005 é feito com Fernão Pires, Arinto e Malvasia, onde 10% do lote vai para a madeira de carvalho francês e americano durante 2 meses.

Com 13%Vol. tem uma cor amarelo palha de ligeira concentração.
No nariz, fresco e um pouco abaunilhado, mostra uma boa entrada citrina, casca de laranja, limão, alperce e com algum vegetal fresco associado, e um ligeiro tostado a trazer-lhe alguma complexidade.

Na boca, de médio corpo, com a acidez crispante, frutado, com as notas limonadas a darem muita vivacidade ao conjunto, sempre com as notas vegatais associados, trazendo-lhe um lado seco na boca, permitindo mesmo um final com ligeiro amargo, com notas de avelã e ligeiras nuances da madeira.
Um vinho algo sui generis, pois tem uma grande frescura e uma acidez alta, que nos pede para ser bebido a solo, mas com algum corpo e um pouco amargo que nos diz que é melhor levá-lo para a mesa. Vai depender do estilo de cada um. Não se pense que é um vinho desequilibrado, antes pelo contrário, tem é o seu perfil. Será dos ares da serra e dos terrenos xistosos escondidos em pleno maciço calcário estremenho?

Nota 15,5
Preço 4 euros
Produção 10500 garrafas

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Apegadas Quinta Velha Reserva 2004

Depois de provado aqui o Apegadas Quinta Velha 2004, aparece para prova o seu irmão, o Reserva.
Este é feito com uma selecçao de diferentes parcelas da Qta. Velha, situada entre a Régua e o Pinhão, onde predominam as castas Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Barroca e Touriga Nacional, com um estágio de 12 meses em Carvalho Húngaro e Americano.

Com 15%Vol. e uma cor rubi de boa concentração.
No nariz, a madeira está bem presente, tostado, onde os aromas a folhas de tabaco, a baunilha, a erva seca, algumas especiarias que se sobrepõem à fruta, com compotas de frutos pretos e um toque de grafite muito cativante que lhe trás alguma frescura no aroma. Nota-se aqui um estágio em madeira de bom nível, ainda que não completamente casado com o lado floral e frutado do vinho.

Aveludado na boca, de bom volume de boca, mais espesso que o colheita, com uma frescura trazida pela boa acidez e pelo ligeiro perfil mineral. Nota-se uma excelente maturação das uvas, com fruta muito madura, com bons taninos mas sem desafinarem ajudam a uma boa prova. Aqui já se vê um melhor equilíbrio do vinho, com a madeira bem integrada, que proporciona um final de bom nível com charuto e café a ficarem no palato.
É um vinho mais afinado na boca que o colheita 2004, e mesmo com mais meio grau, o bom volume e a boa densidade não deixam o álcool desequilibrar o vinho. No entanto continue-se tal como o anterior a beber à temperatura correcta.

Nota 16,5
Produção 1800 garrafas
Preço 20 euros

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Tokaji Aszú 5 Putonnyos 2000 ( Grof Degendelf )

Pela primeira vez o Vinho da Casa dá a conhecer um vinho de colheita tardia da região Húngara de Tokaj-Hegyalja.
Vindo do produtor Grof Degendelf, é um vinho feito com uvas vindimadas mais tarde do que o normal, com o fim das mesmas poderem ser atacadas por um fungo de seu nome botrytis cinerea que lhe vai trazer grandes níveis de açucar e aromas inconfundíveis.
O nível de açucar residual é depois escalonado de forma ascendente em puttonyos, desde o 3 até ao 7. Este 5 puttonyos provado tem 135 gramas/litro de açucar. Devido a esta doçura, é um tipo de vinho que deve ser apreciado a 10ºC.

Tem 11,5%Vol. e uma bonita cor laranja dourado.
No nariz, os aromas aparecem aqui de forma mais que exuberante, dando vontade de ficar a cheirar o copo por longos minutos... As notas húmidas da terra, o funcho, os figos, o mel, o maracujá, algum tabaco fresco, a casca de laranja, as amendoas... Tantos e tantos aromas que se descortinam de cada vez que se leva o nariz ao copo, demonstrando assim uma enorme alegria e uma boa complexidade.

Na boca, untuoso e quase licoroso, suave e delicado, mas no entanto muito doce, quase parecido com o xarope para a tosse, com o mel, a maça assada a aparecerem bem conjugados com os frutos secos, num final longo e ligeiramente enjoativo, sinceramente estava à espera de contar com mais profundidade, com uma acidez capaz de aguentar o açúcar e por aquilo que mostrou no nariz. Não se mostra tão complexo na boca.
Um vinho muito bom para a sobremesa, mas que tem o seu auge como entrada, ao lado de um foie gras. À falta de melhor, acompanhei com mousse de pato e a ligação foi estupenda.

Nota 16,5
Preço - À volta de 5000 Forits Hungaros ( 20 Euros)


quinta-feira, janeiro 11, 2007

Redoma 2004

Redoma, dizem os dicionários que é uma campânula de vidro, convexa, destinada a guardar do pó objectos delicados. Para mim, uma redoma é uma garrafa bordalesa que envolve um delicado líquido feito pela casa Niepoort, onde em 0,75 l se tenta reflectir o Douro no seu todo.
Na Niepoort, a colheita de 2004 é simplesmente magnífica, super-equilibrada e com vinhos excepcionais. Das vezes que os provei pelos vários eventos e jantares, o Redoma para mim é um vinho fenomenal, e até o prefiro ligeiramente ao Batuta ( mais tarde publicarei a nota de prova). O Charme, claro, é de outro estilo.
Não apenas nesta casa, penso que a colheita de 2003 levará sempre a melhor no que toca a vinhos do Douro, pois o peso da colheita de Porto's de 2003 é algo difícil de transpôr.
Para aqueles que me seguem fielmente ( sim vocês os 3), acreditem, 2004 é um grande ano para os vinhos do Douro e bem melhor que a colheita de 2003.
Este tinto foi a primeira grande marca que Dirk Niepoort implementou na sua casa no que toca a vinhos tranquilos, desde o início dos anos 90. Provém actualmente de variadas vinhas velhas viradas a norte, todas com mais de 60 anos, com castas tradicionais do Douro, algumas menos conhecidas actualmente, tais como o Tinto Cão, a Tinta Amarela, a Tinta Francisca e o Sousão.
O lote estagia durante 18 meses em barricas de Carvalho Francês.

Com 14%vol e uma cor rubi com reflexos púrpura de grande concentração.
No nariz o vinho mostra classe, profundidade, com uma entrada fresca e ligeiramente química, quase lembrando borracha e algum eucalipto. Com o agitar do copo, a excelência da barrica dá de si, com as notas tostadas e o cheiro a móvel encerado a desmultiplicar-se com a esteva e a fruta, com amoras, ameixas pretas e romãs, num fundo mineral com aromas de grafite.

Na boca, carnudo, o vinho tem uma densidade muito boa, quase mastigável, com taninos de grande nível, muita fruta fresca, especiarias e chocolate preto. A capacidade de preencher todos os cantos da boca neste vinho é incrível. Tudo isto numa envolvente suavidade digna de um grande vinho, elegante e com um final muito bom, mineral, onde as notas de baunilha e especiarias se prolongam... e prolongam e prolongam.
É um prazer beber este vinho, completamente afinado e muito bem trabalhado. Aguerrido mas delicado, bruto mas bem-educado, cativante e persuasivo. Quase de certeza que estará cá para ser apreciado durante largos anos.

É um fusão talvez da rusticidade e tipicidade das áridas mãos dos trabalhadores das terras durienses e da elegância e civismo das gentes das terras baixas metidos dentro de uma Redoma, perdão, garrafa.

Nota 18,5
Preço - 25 euros
Produção - 18300 garrafas

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Grou 2 2004

Em Cabeção, na Soc. Agrícola do Vale da Joana, nasceu um novo projecto na colheita de 2004, apesar de naquela localidade o património vitvinicola já existir desde 1836, com registos de vinhas pertencentes à família Nunes Barata.
Nos dias de hoje, Nunes Barata convidou Anselmo Mendes a trabalhar em pleno Alentejo, e o resultado são 56 hectares das mais variadas castas, com predominância na Touriga Nacional, Aragonês, Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Trincadeira, Syrah e outras com menor peso como, Cabernet, Tinto cão, Bastardo e Baga.

Além deste Grou 2 2004, foi feito também o Grou 2004, e na colheita de 2005 apareceu um novo vinho, Grou 2 Reserva. Todos estes vão ser alvo de apreciação pelo Vinho da Casa, ficando este Grou 2 2004 como o primeiro a ser "testado".
É então um vinho feito só em Inox, sem qualquer contacto com a madeira, e que tem no seu lote Aragonês, Trincadeira e Syrah.

Com 13,5%vol apresenta uma tonalidade granada de ligeira concentração, bonita e límpida.

No nariz, mostra-se bem vivo, com notas de ameixa preta a saltar do copo, muitos morangos, algumas especiarias e um vegetal fresco, envolvidos num perfil fresco e balsâmico e com aromas quase lembrando borracha e/ou alcatrão.

Na boca, o vinho volta a mostrar uma vivacidade de se lhe tirar o chapéu, muito fresco, acidez distinta dos "alentejanos", talvez a experiência nortenha de Anselmo Mendes tenha feito a diferença, com um corpo surpreendente para a tonalidade do vinho, pois os taninos estão ainda presentes, mas bem suportados pelo volume de boca, permitindo uma boa prova, com a fruta vermelha a marcar, casca de maçã vermelha e uns toques minerais. Bom final, com a fruta e a borracha a substituirem a madeira que não está cá.
Um vinho diferente, num estilo fresco e "unoaked" e que pela nota que tem merece ser provado.

Nota 16,5
Preço 7 euros
Produção 15000 garrafas

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Rol de Coisas Antigas 2005

Manuel dos Santos Campolargo, apresenta-nos mais um novo vinho, desta forma uma novidade na sua gama, mas que de novo nada tem, pelo menos no nome.
É um vinho feito com um lote de castas antigas da Bairrada:
Touriga Nacional ( Moreto)
Alfrocheiro ( Xara)
Sousão
Tinta Pinheira
Bastardo
Alicante Bouschet
Baga
Castelão

Com este lote, o produtor estagiou o vinho em barricas de carvalho francês durante 10 meses, após fermentação em pequenos lagares.

Tem 13,5%vol e uma cor é quase preta, com ligeiros reflexos púrpura.
No nariz, exuberante, um aroma fresco domina, com aromas de mentol, muito químico, quase tinta, com uma boa componente floral a perfumar o conjunto. A fruta também marca presença mas em segundo plano, com notas de amoras pretas e um ligeiro fundo de couro.

Na boca o vinho mostra-se muito jovem, algo vegetal, frutado e com os taninos a darem alguma austeridade, com um perfil fresco graças à boa acidez que apresenta. A madeira está bem integrada no vinho, sem o marcar, onde o chocolate preto anda bem ligado aos frutos silvestres. Termina bem, com um traço balsâmico e vigoroso. É um vinho fresco, com bom volume de boca e com alguma força.

Nota 16
Preço 10 euros
Produção 10424 garrafas

terça-feira, janeiro 02, 2007

Oboé Grande Escolha 2003

Depois da nota desastrosa e quanto a mim incompreensível atribuída pelo meu amigo e vizinho do Pingas no Copo, chega a vez do Oboé ser tocado aqui no Vinho da Casa.

Este vinho, com um bonito rótulo, é o topo de gama da Companhia de Vinhos do Douro, elaborado com um criteriosa selecção de uvas de Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca que adormecem durante longos 20 meses em barricas novas de Carvalho Francês após uma maceracão prolongada.

Tem uns bonitos 13%vol e é quase preto na cor.
Com alguma complexidade no nariz a primeira impressão é um perfil denso e bem frutado, com muita fruta madura, muita fruta silvestre ( amoras, groselhas, compotas). A madeira diz que está presente, com o chocolate e as folhas de tabaco a fazerem um bom conjunto. Ao lado deste fruto, aparecem uns aromas curiosos, lembrando quase engaço, vegetal fresco, a trazer ao vinho um toque rústico.

Na boca, com um volume enorme, bem denso e estruturado, mas com taninos finos, fazem uma boa prova, com garra, onde toda a fruta presente é envolvida por uma suavidade trazida pelo longo estágio, cheio de chocolate e algum licor. Os 13º estão aqui na perfeição, mostrando aos demais que em 2003, foi possível fazer um vinho com uma boa maturação e com pouca graduação. O lado rústico continua aqui presente. Termina com um final com alguma complexidade.

É um vinho interessante, com bom volume, nota-se que houve muita extracção e cuidados ao fazê-lo. Os 20 meses de madeira nova não assustam, pois o vinho não está só marcado pela madeira. O preço é que está um pouco acima...

Nota 16,5
Preço - 40 euros
Produção - 3500 garrafas